segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

David Belle's Parkour (tradução) - Pt 2

Tradução livre da versão em inglês do livro Parkour, de David Belle
Tradutor desta parte: Victor Silva (Kratos)

A parte anterior do livro encontra-se aqui.
A parte seguinte do livro encontra-se aqui.
O índice com todas as partes do livro encontra-se aqui.



Introdução

Por que este livro?


Eu não posso falar sobre Parkour sem falar sobre o meu pai. Eles estão indeletavelmente ligados. Raymond Belle é o alicerce de tudo - da minha vida, da criação do Parkour e seu desenvolvimento mundo afora. Sem ele, não haveria David Belle e nem Parkour. Este livro não é apenas um tributo a ele, mas também uma explicação do que ele passou para mim, toda a filosofia de vida que estava no núcleo desta disciplina e continua me guiando até hoje.

O objetivo deste livro não é dar lições ou, menos ainda, me promover. Eu só quero que as pessoas entendam o Parkour como ele deveria ser. Para muitos, nós somos apenas "os caras saltando de telhado em telhado", enquanto que esta disciplina é muito mais do que isso. Se nós pulamos de um prédio para outro, é apenas porque as cidades foram construídas; se estivessemos vivendo em árvores, nós simplesmente pularíamos de árvore em árvore, nossas casas seriam pedras e nós pularíamos de pedra em pedra. Não importa onde você esteja, não importa o seu ambiente, Parkour é ir aonde seu corpo pode te levar, aonde a sua força de vontade te conduzir. Além do método de treinamento físico, além da disciplina do movimento e de cruzar obstáculos, Parkour é uma abertura para um mundo novo em folha, uma forma de aprender a se conhecer melhor, um novo modo de vida. Hoje eu posso ver que muitas pessoas não entenderam essa busca pela própria identidade, essa busca pelo próprio "eu", que o Parkour é. Não é sobre pular obstáculos para se tornar o melhor, ou se machucar e correr riscos para provar que você existe. Mesmo se no início havia um pouco disso em mim, eu logo aprendi que o excesso era inútil. Meu pai costumava dizer: "Não ative coisas negativas, não tente se machucar; a vida te dará oportunidades o bastante para aprender sobre dor e sofrimento." Eu acabei entendendo que eu não precisava passar pelo que meu pai passou para ser um homem respeitável. E muito naturalmente eu respeito as outras pessoas, mesmo se elas não conseguem fazer metade do que eu faço no Parkour. Ser um homem não é ser o mais forte, o mais durão, o que pula mais alto ou mais longe. Meu pai sempre pôs muita ênfase nisto: "Ser um homem é, acima de tudo, honrar a própria palavra. Se você disser que fará algo, então faça. Até mesmo as coisas mais servis." Um homem pode ser o mais forte do mundo, mas se ele não cumprir a sua palavra, as pessoas ao seu redor vão acabar percebendo isso e perdendo toda e qualquer forma de respeito para com ele. Os jovens têm uma grande dificuldade com isso hoje: cumprir a própria palavra. Eles prometem coisas, eles gostam de se gabar, de se mostrar, mas são apenas palavras vazias. Quando chega a hora de transformar palavras em ações, eles simplesmente somem.

Alguns traceurs* reinvidicam a criação do Parkour como se eles tivessem feito tudo sozinhos. Mas quando estão sendo entrevistados, eles são incapazes de explicar esta disciplina, de expressar seu verdadeiro significado. Mas houve a história do meu pai e de tudo que ele me deu. Eu também poderia ter dito que eu criei essa nova disciplina sozinho, eu poderia ter dito todo tipo de porcaria, eu poderia ter mentido e colocado um rótulo em mim mesmo: David Belle, Inventor do Parkour. Mas não, eu não fiz isso. Meu pai passou por coisas terríveis e o sofrimento dele me trouxe aonde estou hoje. Eu devo a ele esse respeito, essa gratidão. Depois de anos demais que eu passei sem falar sobre esse assunto realmente pessoal, eu decidi contar a história do meu pai e a verdadeira origem do Parkour. Eu quero falar disso para todo mundo que estiver interessado no Parkour ou que gostaria de começar a praticá-lo, para todos os jovens que têm tantas perguntas sobre tantas coisas e não têm necessariamente seus pais ao lado para ajudá-los, ou que se sentem perdidos como eu me senti quando era um adolescente.

É claro que a história do meu pai não é uma referência absoluta - longe disso - e ele também não é o exemplo definitivo a se seguir. Mas os jovens podem olhar ao redor de si, na própria família, e deve haver alguém, um modelo, que eles possam seguir. Alguém verdadeiro, com valores reais, que pode conduzi-los pela vida. Todos conhecemos alguém entre nossos parentes que passou por coisas extraordinárias na vida e que pode nos ensinar a permanecer autênticos e a levar uma vida de bem. Meu pai me alertou sobre as armadilhas da vida e me protegeu de pessoas negativas. Se eu tivesse prestado atenção a cada vez que me disseram "Ei, garoto, não suba esse muro!", eu nunca teria me tornado quem eu sou hoje.

Raymond Belle foi meu pai mas também foi meu mentor. Provavelmente seriam necessários dez livros para falar de toda a sua vida. Eu nunca terei tanta experiência e carisma quanto ele, mas ao menos eu tenho orgulho de contar a sua história aqui, e passar todas as coisas que ele me passou, palavra por palavra, sem acrescentar nem omitir nada.

*traceur: praticante de Parkour



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