domingo, 5 de junho de 2016

David Belle's Parkour (tradução) - Pt 8

Tradução livre da versão em inglês do livro Parkour, de David Belle
Tradutor desta parte: Leo Silva
Revisor: Victor Silva (Kratos)

A parte anterior do livro encontra-se aqui.
A parte seguinte do livro encontra-se aqui.
O índice com todas as partes do livro encontra-se aqui.



Seu avô o inscreveu em clubes esportivos para canalizar a sua energia?


Meu avô me matriculou na ginástica, mas eu acredito que foi, acima de tudo, para agradar ao meu pai, e também porque ele queria que eu desenvolvesse minhas habilidades físicas para participar de algum esquadrão de bombeiros mais tarde. Eu pessoalmente não tinha uma preferência; tudo o que eu queria era praticar esportes. Meu avô nunca me forçou a nada. Eu fazia ginástica e também atletismo na escola. Eu era muito aplicado; era talentoso em comparação com os outros, mas para mim não havia muita diferença. Não era por que eu podia dar um mortal ou um pulo grande que eu me sentia mais forte ou resistente. Eu ainda era muito introvertido, muito retraído. Eu não tinha nenhum tipo de identidade na escola ou fora dela. Eu não sabia quem eu era em meio aos outros por que eu não me afirmava. Eu sempre fui muito reservado e não falava muito com meus colegas de classe. Nas aulas eu não respondia às perguntas dos professores e não ia ao quadro negro mesmo quando eu sabia as matérias de cor. Simplesmente porque não queria que minha voz fosse ouvida. Preferia fingir não saber nada a me expressar. Na minha cabeça, sentia que havia vencido quando o professor acabava perguntando para algum outro aluno. Mas na verdade estava apenas fracassando na escola.

Houve um tempo em que eu questionava tudo que me estava sendo ensinado na escola. Não queria que nenhuma informação entrasse na minha cabeça sem ter certeza de que era verdadeira. Se me diziam que Luís XVI viveu e morreu de certa forma, eu questionava isso e ficava me perguntando: “Mas como eles sabem? Eles não estavam lá para testemunhar isso!” Os professores não eram confiáveis para mim. Eles só me diziam coisas que eles mesmo haviam aprendido em livros. Eu sempre tive essa dúvida na minha cabeça, e por consequência eu não queria aprender. Exceto pelas coisas básicas como “dois e dois são quatro”, nada entrava em minha cabeça dura e eu simplesmente não aprendia minhas lições. Não porque eu não conseguia, mas por que não conseguia ver nenhuma boa razão para fazê-lo. Eu não via o porquê de aprender tudo aquilo, qual era o objetivo de tudo no fim de contas. Eu acho que se hoje nós explicássemos às crianças por que tal e tal coisa serão úteis na vida delas, elas seriam menos relutantes em aprender na escola. Ao invés de me dizerem o motivo para eu decorar a vida e os fatos de essa ou aquela figura histórica importante, o professor apenas dizia: “Decore isso para amanhã”. Como resultado, eu não estava nem um pouco interessado, e os professores achavam que eu era um fracasso. E eu, eu não podia nem mesmo soletrar sem cometer dez erros em uma frase e isso me desencorajava.

Seus problemas na escola preocupavam seus pais?


Minha mãe provavelmente ficava preocupada porque seu irmão era um diretor de escola, sua cunhada era professora e, claro, seus sobrinhos eram os melhores de suas salas. E eu era exatamente o oposto. Então havia certa pressão tanto em minha mãe quanto em mim. Se eu ouvisse meus parentes, às vezes me perguntava o que eu faria da minha vida. Algumas pessoas na minha família pensavam que eu não tinha futuro algum só porque eu não conseguia jogar jogos de tabuleiro! Todos esses comentários estúpidos realmente me chateavam e acabei pensando que eu realmente era um nada, e me retraí ainda mais. Quando me tornei um adolescente, comecei a me perguntar bastante sobre a vida em geral. Eu me perguntava o que eu estava fazendo aqui, nesta vida. Eu sentia como se tivesse nascido em uma época em que nada acontecia e que portanto eu não experimentaria aquelas aventuras empolgantes que meu avô havia conhecido na Segunda Guerra Mundial, ou meu pai conhecido na Guerra do Vietnã. Desde pequeno, eu fui criado ouvindo histórias de bombeiros, soldados, heróis e feitos de todos os tipos, e é claro que isso entrava na minha cabeça e me influenciava. Na época, eu vivia em Vendée com meu avô e comecei a falar muito sobre o meu pai. Eu fazia várias perguntas sobre o passado dele, suas missões no esquadrão de bombeiros de Paris. Eu precisava saber de onde eu vinha, saber mais sobre minhas raízes asiáticas do lado do meu pai, mesmo que elas não fossem visíveis em minhas características físicas. Eu estava trabalhando a minha mente e, para meus primos do lado da minha mãe na família, eu dizia e repetia que eu não era como eles.

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